Desculpem voltar a insistir, mas o silêncio que se instalou em volta dos trabalhos de construção do centro comercial "W" incomoda-me seriamente! Será que ninguém está preocupado? Será que ninguém está interessado em apurar responsabilidades? Os materiais arqueológicos continuam ao abandono em terreno privado e quase todos os habitantes de Santarém o sabem... E quem de direito? Continuarão a esconder a cabeça na areia, qual avestruz? E é esta a protecção que se dá ao património no nosso país! Que bom é ser arqueologo em Portugal...
De facto, o silêncio é pesado mas, pelo menos no que me diz respeito, não tenho informação que permita quebrá-lo.
Seria bom que quem conhece o assunto mais de perto (nomeadamente por estar ou ter estado envolvido no processo) pudesse partilhar essa informação connosco.
Pois, eu acho que o mal é esse mesmo, ou seja, quem está directa ou indirectamente ligado ao assunto NÃO quer partilhar qualquer tipo de informação... Não quis pensar assim durante algum tempo, mas realmente esta ideia foi-se instalando em mim... Esperemos que as consequências desta NÃO INFORMAÇÃO não nos tragam dissabores a nível do nosso património... ou então a Arqueologia em Portugal vai mesmo muito, muito mal
A razão do silêncio, neste e noutros fóruns, tem muito a ver, quanto a mim, com o modo como se distribuem os arqueólogos:
- 1/3 são arqueólogos camarários, proibidos de abrir o bico e ameaçados de despedimento à primeira revelação de descoberta (ou da sua destruição)
- 1/3 são arqueólogos desempregados ou que andam a fazem biscatos pelos museus e pelas "empresas"de arqueologia, muitas vezes pagando para trabalhar.
- 1/6 são os velhinhos das torres de marfim da linha Lisboa-Coimbra e respectivas comitivas, que estão na idade de fazerem homenagens uns aos outros, pouco sobrando já tempo para mais.
- 1/6 está a fazer pós-graduações no estrangeiro e, se forem espertos, não voltam.
Obrigada a Ricardo Gaidão, mas a pólémica já abandonou há muito os jornais e até as reportagens do Correio da Manhã foram silenciadas.
Muito obrigada também a Júlio Montalvão pela resposta, mas embora o que tenha dito seja bem verdade, acho que o nosso brio profissional tem que ultrapassar muitas dessas situações... Afinal não é nosso papel defender acima de tudo o nosso património? Se estiver errada, por favor corrijam-me, mas nada nem ninguém me impediria de abrir a boca para denunciar situações deste género... e não me venham dizer que a ameaça de um despedimento pode colocar um arqueólogo a pensar duas vezes na atitude a tomar!!! Como foram descobertos estes vestígios islâmicos? Não foi durante as obras ali a decorrer? E não se ouviu logo, quase de imediato, falar destes achados? Qual é a diferença em relação à construção do "W"? Um é uma obra pública e outra é uma obra privada? Muito obrigado, até aí também já eu cheguei, mas por experiência própria, sei que qualquer obra realizada dentro de qualquer municipio passa pelas mãos da câmara, e em caso de zonas históricas, passa pelas maõs do arqueólogo para este dar o seu parecer! Terá este projecto passado ao lado do arqueólogo, DELIBERADAMENTE? Não me espantava nada... A partir do momento em que se iniciaram as obras do "W", avisavam-se as entidades competentes para que estas tomassem posição, ao lodo do arqueólogo... CERTO? Mas o que é que foi feito? Desculpem-me, mas continuo sem compreender o atraso no apuramento de responsabilidades!