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Dicionário de Termos Arqueológicos

Algum arqueólogo já deu uma vista de olhos ao "Dicionário de Termos Arqueológicos", de Paulo Figueiredo? Eu sou só geógrafo mas fiquei estarrecido com o domínio muito deficiente da gramática, a ausência de critério e de organização temática, a bibliografia desadequada, as definições pueris e por vezes estrondosamente disparatadas. Seria quase cómico se não fosse um pouco assustador. Penso que alguém da profissão devia levantar a voz e fazer uma recensão, antes que conste que o nível dos arqueólogos é mesmo assim...

Re: Dicionário de Termos Arqueológicos1

Também tive oportunidade de folhear e ler algumas das entradas desta obra e não fiquei com uma opinião muito lisonjeira (para ser simpático), quer da forma, quer do conteúdo da mesma.
Deixando aos utilizadores deste Fórum a prioridade de expressão de comentários mais desenvolvidos, transcrevo, contudo, com a devida vénia, a apreciação em devido tempo feita por Marcos Osório no seu Arqueoblogo.

Março 19, 2004
204. O Dicionário de Paulo Figueiredo.
Já se encontra disponível nas livrarias o Dicionário de termos arqueológicos de Paulo Figueiredo. Esta obra tem sido apontada como um bom instrumento de trabalho para todos aqueles que estão envolvidos com a actividade arqueológica.
No escasso tempo que dispus para entrar numa livraria, na última ida a Coimbra, encontrei o livro e comprei-o. Não tive tempo para folheá-lo com atenção, mas numa rápida observação pareceu-me ser uma obra útil.
Ao deter-me posteriormente nas suas linhas, com mais calma, fui verificando que, apesar de algumas notas interessantes, o trabalho encontra-se incompleto, é pouco rigoroso e denota uma ligeira falta de coerência. É natural que sejamos mais exigentes na avaliação de uma publicação científica. Este Dicionário parecia um trabalho de referência, mas infelizmente revelou-se pouco satisfatório. Será mais proveitoso para estudantes ou para curiosos da arqueologia.
Penso que o Paulo Figueiredo fez um trabalho honesto. O seu currículo demonstra dinamismo e espírito empreendedor, mas não tem conhecimentos suficientes para se envolver em tamanha proeza. Não é nada agradável pegar no livro e encontrar, logo à primeira vista, algumas imprecisões e uma constante falta de critério na selecção dos termos escolhidos. Se detecto alguns aspectos menos rigorosos relativamente às temáticas que conheço melhor, fico naturalmente desconfiado em relação aos assuntos que não domino.

Entre os aspectos menos bem conseguidos nesta obra destaco:
a) A omissão de uma série de termos arqueológicos fundamentais:
O critério de selecção dos termos é um pouco duvidoso ou então houve falhas e esquecimento de outros vocábulos usuais na bibliografia arqueológica. Um verdadeiro dicionário de arqueologia deveria ser exaustivo naqueles termos que empregamos no nosso discurso.
Para não ser fastidioso, consultei apenas o índice de Tipo de Sítios do Instituto Português de Arqueologia e obtive a seguinte lista de palavras inexistentes no Dicionário de Paulo Figueiredo: Achado isolado, Atalaia, Azenha, Balneário, Basílica, Canal, Canalização, Cais, Capela, Casal ou casal rústico, Chafurdão, Complexo ou complexo industrial, Concheiro, Convento, Covas do Lobo, Curral, Depósito ou Depósito votivo, Edifício, Ermida, Escultura ou Estátua, Estrutura, Fonte, Forja, Fossa, Hipódromo, Lagar, Lagareta ou Lagariça, Malaposta, Mancha de Ocupação, Marco ou Marco de Cruzamento, Mesquita, Mina, Moinho, Monteiro, Muralha, Muro, Nicho, Núcleo de Povoamento, Paço, Ponte, Povoado, Povoado Fortificado, Povoado Mineiro, Poço, Recinto, Represa, Salina, Sinagoga, Tanque, Tulhas, Vicus.
b) Gralhas na enumeração alfabética dos termos:
Numa rápida vistoria detectei, por exemplo, que Estela, Estilo e Estilóbato vêm depois de Estratigrafia horizontal, tal como Entulho antecede Entrelaçadas; Islâmico aparece antes de Insula, Intercolúnio ou Instituto Geológico e Mineiro; Mausoléu vem antes de Mamoa e Mamute; também Oito objectos precisos surge anteriormente a Oficina e a Oficina epigráfica; ou até deparo com Tholos depois de Túnel e Turbé.
Estes erros são frequentes e não permitem uma rápida e eficaz utilização do dicionário.
c) A inclusão de termos de carácter tópico:
Ao integrar diversos topónimos antigos na listagem, o autor correu o risco do seu trabalho se tornar bastante incompleto. A selecção de alguma toponímia em detrimento de outra, torna a obra pouco objectiva, mesmo que seja sustentada com base na escolha das mais conhecidas no meio arqueológico. Porquê referir Ablegas (= nome árabe da Vila de Ourém), se não refere outros antigos topónimos árabes do território nacional? Considero que os nomes das antigas cidades romanas e das primitivas povoações árabes mereciam um inventário à parte, talvez num Dicionário da Geografia Antiga de Portugal.
Ainda por cima, detectam-se alguns erros crassos, como colocar Idanha-a-Velha no concelho da Covilhã e atribuir às suas ruínas arqueológicas, categoricamente, o nome antigo de Igaeditania. Também é muito discutível e pouco rigorosa a localização de Collipo em Leiria. [...]

(continua noutro post porque a dimensão excede o número de caracteres aqui permitido)

Re: Dicionário de Termos Arqueológicos2

[...] Continuação

d) A referência subjectiva e despropositada a estações arqueológicas:
Questiono o critério de selecção das estações arqueológicas referidas no trabalho, provavelmente ao gosto do autor, que nem interessavam para este Dicionário. A menção de algumas antas, castros, povoados, vias ou villas, baseou-se apenas no conhecimento dos casos concretos, pelo autor do trabalho, e não é isto que se pretende de qualquer Dicionário. Mais úteis seriam num Inventário Nacional do Património Arqueológico.
A subjectividade das escolhas reflecte-se por exemplo na entrada Capela antiga e Paço episcopal (Guarda), quando não vêm por exemplo os ‘Castelos Velhos’ um dos sítios arqueológicos mais emblemáticos desta cidade e abundantemente referido na bibliografia. Também não compreendo a entrada errónea Villa da Póvoa do Milreu, em vez de ‘Póvoa do Mileu’.
Segundo o mesmo critério, não se entende porque é que não são incluídos outros ‘Paços Episcopais’, como o de Coimbra (assente sobre o criptopórtico romano da cidade de Aeminum)?
Porquê é que só aparece a Gruta da Nascente do Almonda? Não há mais grutas conhecidas e essenciais a este rol? Só esta é importante relembrar?
Estas incoerências poderiam ser evitadas deixando os sítios arqueológicos de fora deste trabalho.
e) Inclusão de palavras que não são propriamente termos arqueológicos:
Pergunto se Chaves, Coimbra, Évora, Faro ou Idanha-a-Velha são termos arqueológicos. Nuns casos, o autor remete para o primitivo nome romano da cidade e nos outros dá mesmo uma definição.
f) Falta de coerência nas entradas da listagem e nas descrições:
Há falta de rigor na indicação dos termos, misturando casos como Cidade de Eburobrittium, com outros em que aparece apenas o topónimo antigo, como Aeminium, ou outros em que surge apenas o nome actual da cidade, como Faro.
Também há falta de critério no uso do singular e do plural: por exemplo utiliza-se Berrões por Berrão, Ferrarias por Ferraria, Marcos Miliários por marco miliário. O uso do plural justifica-se num dicionário, quando a palavra só é empregue nessa forma.
A utilização das palavras em latim não é criteriosa. Umas vezes traduzem-se ao português e outras mantêm-se na respectiva língua. Da mesma forma não se entende porque é que Villa aparece em itálico e não as restantes palavras latinas.

Enfim, por tudo isto, fica esta obra aquém das expectativas geradas e lá teremos que esperar por novas edições corrigidas e ampliadas.
# posted by Marcos Osorio @ 12:30 PM
(http://arqueoblogo.blogspot.com/2004_03_01_arqueoblogo_archive.html)

Paulo Figueiredo respondeu então:

Olá, sou o autor do Dicionário, este tão falado por aqui!!!
Depois de ter recebido logo pela manhã, uns email´s para ir a este blog´s, pois falavam do autor e da obra. Cá estou!
Gostei do que li, é uma opinião, aceito-a,!
E como está descrito na introdução do dicionário estou acessivel para critícas (construtivas), tá claro!.
Quanto ás pessoas que comentaram, não as conheço.. para mim são incentivos e são sempre de ter em conta para novas obras.
Usei um critério... tive que selecionar termos, podia-me estender por outros campos.
Optei por este que foi dificil... não é muito fácil trabalhar numa obra tão abrangente, com linguagem acessivel.
Os termos usados são referencias usadas no dia-a-dia, outros optei por não os colocar!
Quanto à ordem alfabética, a informática tem destas coisas...
Os sitios que estão referenciados, são os classificados pelo Ippar só mesmo esses.
Não iria colocar outros, senão teria de colocar os 32.000 existentes em Portugal.

São critérios...

Agradeço a todos e posso esclarecer mais... por email.

Cumprimentos.
Paulo Fig.

Re: Dicionário de Termos Arqueológicos

Cumprimentos.
Ainda bem que aqui se falou deste mal fadado dicionário, pois aqui há 2 meses tive a oportunidade de o folhear numa livraria do Porto e também fiquei com a impressão de que estava bastante incompleto e achei até um pouco "naif"!
Mesmo, como já ouvi defender, que seja destinado a leigos no assunto ou para estudantes de arqueologia (ou história, geologia, etc.), há que ter muito cuidado com o que se escreve, porque isto faz-me lembrar um pouco a velha história da Revolução neolítica ainda hoje injectada nos manuais e nas inocentes mentes dos alunos do 7.º ano!
Contudo, ficarei por aqui visto ainda não ter consultado com atenção o dito livro.
Já agora, precisava duma opinião sobre um outro dicionário de arqueologia: da autoria de Lluis Garcia, Josep Miret, M. Teresa Miró e Genis Ribé. Conhecem a obra (Diccionari d'Arqueologia)? Foi lançado em Outubro de 2002 em Barcelona.
Abraço

Eliana Sousa

Re: Dicionário de Termos Arqueológicos

Não conheço directamente a obra de que fala, mas sei que é editada por uma instituição de sólida credibilidade, El Centre de Terminologia TERMCAT, um consórcio dedicado à normalização linguística na Catalunha, com envolvimento da Generalitat e do Institut d’Estudis Catalans (mais informação em http://cultura.gencat.net/llengcat/organi/termcat.htm). São tratados 2000 termos de carácter teórico, relacionados com o trabalho de campo, as estruturas e a interpretação arqueológica, ou com áreas específicas como a numismática, os mosaicos, as técnicas de datação ou os métodos de escavação. O texto principal é em catalão, mas tem a grande vantagem de apresentar a equivalência terminológica em castelhano e inglês, com os respectivos índices e abundante bibliografia (mais informação em http://www.idescat.es/publicacions/llengua/ressenyes/diccionariarqueol.pdf).
Creio que esta obra virá na linha de uma outra com o mesmo título que tive oportunidade de comprar em Espanha há dois ou três anos, também organizada segundo as recomendações do TERMCAT (Garcia i Martin, J. M. y Llopis i Garcia, T. M. "Diccionari d’Arqueologia", Alancant: Universitat d’Alancant, 2000, 95 p. ISBN 84-7908-496-0).
Neste caso são tratados apenas 396 termos, também em catalão, mas com a respectiva equivalência em castelhano, francês, inglês e italiano e com a consulta facilitada, em qualquer dessas línguas, pela inclusão dos respectivos índices. Falta-lhe o português ( ) mas, ainda assim, é uma ferramenta muito útil para quem tem necessidade de recorrer com frequência à consulta de bibliografia estrangeira. As descrições são concisas mas, em minha opinião, criteriosas e bem elaboradas.
A mesma editora tem também disponível um dicionário de Pré-História (Domènech Faus, E. et al. "Diccionari Basic de Prehistòria", Alancant: Universitat d’Alancant, 2000, 60 p. ISBN 84-7908-497-9), com 157 termos em catalão, castelhano, francês e inglês.